sábado, 28 de fevereiro de 2015

Pepe Mujica deixa o topo e entra para a História

Neste domingo, enquanto começa o mês de março de 2015, termina o mandato de Pepe Mujica, um dos presidentes mais populares do mundo, verdadeiro rockstar da política. O guerrilheiro tupamaro que chegou ao poder entregará a faixa presidencial ao mesmo Tabaré Vázquez de quem a recebeu, em 2010, e deixará de ser o presidente do Uruguai.
Seu período presidencial será marcado por grandes transformações no país: o aborto foi legalizado e passou a ser realizado no sistema público de saúde, os homossexuais conquistaram o direito ao matrimônio, a maconha foi passou a ser produzida e comercializada pelo Estado, deixando de ser um problema de segurança pública, o debate sobre a democratização dos meios de comunicação avança rapidamente, o novo comandante do Exército pediu desculpas pelos crimes da ditadura e afirmou que as Forças Armadas precisam limpar todo e qualquer resquício da repressão para voltar a ser respeitada pela cidadania.
É pouco provável que o Uruguai volte a ser notícia no governo do moderadíssimo Vázquez. Como também é muito provável que fique marcada, no imaginário popular, a figura de Mujica como eterno presidente do paisito cisplatino.
Apesar do mito sobre sua vida austera, Mujica não é pobre. Viveu doze anos confinado numa solitária, durante a ditadura uruguaia, o que lhe transformou numa pessoa de grande sensibilidade, suficiente para inspirar os belíssimos discursos que fez na ONU enquanto foi presidente. Condenou o consumo desenfreado, a falta de maior solidariedade com os mais pobres do mundo, a ganância dos grandes grupos econômicos e o mal que o homem faz à natureza em sua busca inescrupulosa por riqueza e poder, conquistando a admiração até daqueles que criticou.
Tinha 14 anos quando escreveu um poema que batizou Rumo ao Topo, e que dizia:
hacia la cumbre

Serei tudo ou não serei
mas é meu lema lutar
para ingressar nas fileiras
dos que sabem triunfar
e culminar as aspirações
de minha pátria e minha mãe



Neste domingo, depois de viver cinco anos no topo, Mujica passará o bastão e voltará à casa. Missão cumprida? Que cada um faça o seu juízo.


Publicado em : redelatinamerica.cartacapital.com.br

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